domingo, 19 de julho de 2020

“TESTEMUNHO”





A vontade deste “testemunho” é algo que sinto a algum tempo.

Tenho adiado essa vontade...deixar para aquele “eterno” amanhã. Aquele amanhã que não sabemos se algum dia vai chegar porque temos a incerteza se o devemos ou não fazer.

Hoje decidi iniciar...Porquê hoje?
Porque hoje sinto a desilusão mais forte...Porque hoje tentam  silenciar-me...Porque hoje não quero perder a coragem para o fazer...Porque sei que depois de começar vou até ao fim.

Tenho paixões intensas...sou assim.

Quando gosto...gosto mesmo!! Aquele gostar que até doí...Aquele gostar que nos “preenche” e que nos “ilumina”...Aquele gostar que nos “cega”.

Não consigo gostar de outra maneira!

E, a vida tem sido muito generosa...coloca no meu “caminho” grandes paixões.

Uma dela é a minha paixão profissional...ser instrutora de condução automóvel.

Quando comecei a ter este “gosto”? Não sei.
Talvez quando iniciei a minha formação prática para a carta de condução. Nunca tinha tentado conduzir. Confesso que a minha primeira aula foi um “susto”.

Quando sentei pela primeira vez naquele banco de condutor, pensei...como vou conseguir colocar esta “máquina” a circular e controla-la? Achei que nunca ia conseguir.

Naquela altura, 1986, não havia muita pedagogia no ‘dar aula de condução’.  Não estou a criticar os profissionais da altura, não estou! Mas era assim.

Para ser instrutor naquela altura não era necessário uma formação muito especifica. Ensinavam o melhor que sabiam e nada tenho contra o instrutor que me ensinou.

Mas a minha primeira aula de condução foi um “terror”. Foi muita informação de uma só vez. Acelera...carrega na embraiagem...faz pisca...olha para os espelhos...olha o sinal...não vês o peão?...trava rápido!...olha o vermelho!...acelera...

Sai da aula com a certeza que nunca ia conseguir...era muita coisa ao mesmo tempo e eu não  conseguia coordenar. Fiquei muito desiludida comigo e com vontade de nunca mais aparecer na escola de condução. Mas sou teimosa e lá apareci para as próximas aulas de condução.

Depois do “susto” inicial fui, completamente, assolada pelo fascínio de conduzir. O final daqueles 50 minutos de aula era uma tristeza...eu queria mais tempo...eu queria que a aula durasse mais e muito mais!

Chegou o dia do meu exame de condução, 12 de Março de 1987. Todos os anos “celebro” este dia, mesmo que o faça sozinha. Mas celebro!


Estava nervosa, naturalmente! Fui a exame com um colega que ainda estava mais nervoso que eu. Pediu para ser o primeiro e eu cedi.

Fiz um exame que considero “bom”...descontando uma tangente que fiz a um veiculo estacionado que deixou o examinador, Engº Carvalho, bastante irritado. Fiquei aprovada com a promessa que não faria mais tangentes a nada.


O longe fica perto quando nos deslocamos num automóvel...uma sensação de liberdade...uma sensação do agora estou aqui mas daqui a pouco estou  acolá.

Penso que foi neste sentimento de  liberdade que se baseou o meu querer ensinar a conduzir. O contribuir para que o outro também pudesse alcançar esta magnifica sensação de “correr” de um lugar para o outro.

Tive de esperar 2 anos para poder fazer a inscrição num curso. Fiz o primeiro curso financiado pela CEE (Comunidade Económica Europeia) na Escola de Condução Santa Joana em Aveiro. Tinha um horário “laboral” de 8 horas diárias durante 3 meses.

Foi um momento da vida que guardo boas recordações.  Fiz uma amizade mais profunda com a Ângela. Ainda hoje temos contacto e sei que ela nutre o mesmo carinho que tenho por ela.

Para obter a licença de instrução naquela altura tínhamos de prestar 3 exames. Primeiro o exame prático, depois o escrito e por último o oral.

Reprovei no exame oral...aliás reprovamos as duas, eu e a Ângela. Estava muito nervosa! O meu exame foi caricato. Só dei hipótese de me fazerem uma única pergunta...e bloquei!

Mentalmente ficou tudo branco. Penso que nem o nome sabia se o questionassem.

A pergunta era básica e eu, apenas, consegui sorrir!
“Defina e exemplifique a regra geral da prioridade”

Numa era em que os computadores não eram muito usuais...tinha de desenhar num quadro um cruzamento, colocar dois veículos e dizer que passava em primeiro lugar o da direita.

Não fiz, nada! Apenas, sorri!
O presidente do júri, voltou a repetir “Defina e exemplifique a regra geral da prioridade”...voltei a sorrir!

Recordo que  o Senhor que presidia o júri foi simpático, disse: “Oh menina! Tem um sorriso lindo mas não chega...tem de vir cá para a próxima e falar”.

Chorei...chorei desalmadamente! Tinha de recuar. 
Voltar a fazer exame escrito para, novamente, fazer exame oral. Fiquei desolada. Pensei que o meu sonho não seria concretizado.

Mas ser teimosa, também, pode trazer vantagens! Não deixei a desilusão derrotar-me. Recuei propus-me ao exame escrito e novamente ao exame oral. O segundo exame não foi brilhante mas consegui - falar!

Nesta fase foi muito importante o apoio da Ângela. Ela estava a ter o mesmo percurso que o meu. Fomos um bom amparo uma para a outra. 
Realizamos o nosso sonho e conseguimos a licença de instrução.

A 27 de Julho de 1990 o sonho torna-se realidade. Naquele dia não tive a noção que a vida oferecia-me um presente “envenenado”. A minha “rosa amarela” veio com, alguns, espinhos.
(continuação)
Paula Rosas

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