A vontade deste “testemunho” é
algo que sinto a algum tempo.
Tenho adiado essa
vontade...deixar para aquele “eterno” amanhã. Aquele amanhã que não sabemos se
algum dia vai chegar porque temos a incerteza se o devemos ou não fazer.
Hoje decidi iniciar...Porquê
hoje?
Porque hoje sinto a desilusão mais forte...Porque hoje tentam silenciar-me...Porque hoje não quero perder a
coragem para o fazer...Porque sei que depois de começar vou até ao fim.
Tenho paixões intensas...sou
assim.
Quando gosto...gosto mesmo!!
Aquele gostar que até doí...Aquele gostar que nos “preenche” e que nos “ilumina”...Aquele
gostar que nos “cega”.
Não consigo gostar de outra
maneira!
E, a vida tem sido muito
generosa...coloca no meu “caminho” grandes paixões.
Uma dela é a minha paixão
profissional...ser instrutora de condução automóvel.
Quando comecei a ter este “gosto”?
Não sei.
Talvez quando iniciei a minha
formação prática para a carta de condução. Nunca tinha tentado conduzir.
Confesso que a minha primeira aula foi um “susto”.
Quando sentei pela primeira
vez naquele banco de condutor, pensei...como vou conseguir colocar esta “máquina”
a circular e controla-la? Achei que nunca ia conseguir.
Naquela altura, 1986, não havia
muita pedagogia no ‘dar aula de condução’.
Não estou a criticar os profissionais da altura, não estou! Mas era
assim.
Para ser instrutor naquela altura
não era necessário uma formação muito especifica. Ensinavam o melhor que sabiam
e nada tenho contra o instrutor que me ensinou.
Mas a minha primeira aula de
condução foi um “terror”. Foi muita informação de uma só vez. Acelera...carrega
na embraiagem...faz pisca...olha para os espelhos...olha o sinal...não vês o
peão?...trava rápido!...olha o vermelho!...acelera...
Sai da aula com a certeza que
nunca ia conseguir...era muita coisa ao mesmo tempo e eu não conseguia coordenar. Fiquei muito desiludida comigo
e com vontade de nunca mais aparecer na escola de condução. Mas sou teimosa e
lá apareci para as próximas aulas de condução.
Depois do “susto” inicial fui,
completamente, assolada pelo fascínio de conduzir. O final daqueles 50 minutos
de aula era uma tristeza...eu queria mais tempo...eu queria que a aula durasse mais
e muito mais!
Chegou o dia do meu exame de condução, 12 de Março de 1987. Todos os anos “celebro” este dia, mesmo que o faça sozinha. Mas celebro!
Estava nervosa, naturalmente! Fui a exame com um colega que ainda estava mais nervoso que eu. Pediu para ser o primeiro e eu cedi.
Fiz um exame que considero “bom”...descontando uma tangente que fiz a um veiculo estacionado que deixou o examinador, Engº Carvalho, bastante irritado. Fiquei aprovada com a promessa que não faria mais tangentes a nada.
O longe fica perto quando nos
deslocamos num automóvel...uma sensação de liberdade...uma sensação do agora
estou aqui mas daqui a pouco estou acolá.
Penso que foi neste sentimento de
liberdade que se baseou o meu querer
ensinar a conduzir. O contribuir para que o outro também pudesse alcançar esta
magnifica sensação de “correr” de um lugar para o outro.
Tive de esperar 2 anos para poder fazer a inscrição num curso. Fiz o primeiro curso financiado pela CEE (Comunidade
Económica Europeia) na Escola de Condução Santa Joana em Aveiro. Tinha um
horário “laboral” de 8 horas diárias durante 3 meses.
Foi um momento da vida que guardo
boas recordações. Fiz uma amizade mais
profunda com a Ângela. Ainda hoje temos contacto e sei que ela nutre o mesmo
carinho que tenho por ela.
Para obter a licença de instrução
naquela altura tínhamos de prestar 3 exames. Primeiro o exame prático,
depois o escrito e por último o oral.
Reprovei no exame oral...aliás
reprovamos as duas, eu e a Ângela. Estava muito nervosa! O meu exame foi caricato. Só dei hipótese de me fazerem uma única pergunta...e bloquei!
Mentalmente ficou tudo branco. Penso que nem o nome sabia se o questionassem.
A pergunta era básica e eu, apenas, consegui sorrir!
“Defina e exemplifique a regra
geral da prioridade”.
Numa era em que os computadores não eram muito usuais...tinha de desenhar num quadro um cruzamento, colocar dois
veículos e dizer que passava em primeiro lugar o da direita.
Não fiz, nada! Apenas, sorri!
O presidente do
júri, voltou a repetir “Defina e exemplifique a regra geral da prioridade”...voltei
a sorrir!
Recordo que o Senhor que presidia o júri foi simpático,
disse: “Oh menina! Tem um sorriso lindo mas não chega...tem de vir cá para a
próxima e falar”.
Chorei...chorei desalmadamente! Tinha
de recuar.
Voltar a fazer exame escrito para, novamente, fazer exame oral.
Fiquei desolada. Pensei que o meu sonho
não seria concretizado.
Mas ser teimosa, também, pode trazer vantagens! Não deixei a desilusão derrotar-me. Recuei propus-me ao exame
escrito e novamente ao exame oral. O segundo exame não foi brilhante mas consegui - falar!
Nesta fase foi muito importante o
apoio da Ângela. Ela estava a ter o mesmo percurso que o meu. Fomos um bom
amparo uma para a outra.
Realizamos o nosso sonho e conseguimos a licença de
instrução.
A 27 de Julho de 1990 o sonho
torna-se realidade. Naquele dia não tive a noção que a vida oferecia-me um
presente “envenenado”. A minha “rosa amarela” veio com, alguns, espinhos.
(continuação)
Paula Rosas